ISBN: 978-65-251-1328-9
IDIOMA: Português
NÚMERO DE PÁGINAS: 228
NÚMERO DA EDIÇÃO: 1
DATA DE PUBLICAÇÃO: Editora CRV
leitura do título – Acreditavam os gregos em seus mitos? –, qualquer pessoa com a mínima cultura histórica terá respondido de antemão: Claro que acreditavam! ” É que lidar com os mitos não põe em questão o verdadeiro e o falso, o interesse estando em perceber como se constituem os regimes de verdade que fundamentam seus usos, do mesmo modo que os da ciência, da religião, da política e das práticas culturais.
É a esse tipo de questão que se dedica este instigante estudo de Edson Arantes Júnior, que não esmorece diante de um enorme desafio: investigar qual tratamento dispensa aos mitos o mais incréu dos escritores gregos, Luciano de Samósata. Já no décimo século bizantino, o patriarca da Igreja do Oriente, Fócio, declarava que Luciano parece não crer em nada, a não ser que se diga que sua crença está no nada crer. De fato, do segundo século de nossa era até hoje, esse sírio, tornado o mais importante autor grego sob o poder de Roma, tem impactado os leitores pela forma como esgrima a ironia, dicção própria dos céticos e desabusados.
Engana-se, todavia, quem pensa que Luciano deprecia e renega os mitos. A premissa em que este livro se baseia é justamente a de que ele, sabedor de que “elementos míticos sustentam a ordem simbólica do poder imperial”, usa o legado da tradição a fim de subverter a ordem estabelecida. Para isso, põe a crítica aos mitos nada menos que na boca das próprias personagens míticas, as mais emblemáticas sendo Momo, Zeus, Prometeu e os mortos no Hades. A cada uma dessas figuras Edson Arantes dedica análises pontuais, considerando, pela ordem, que põem em questão o estatuto da parrésia como forma de dizer, a imagem do tirano, os dilemas do poder e as diversas formas de pensar a vida política.
Tanto para os estudiosos de Luciano se trata de uma contribuição importante, quanto para todos os que se interessam pelos mitos enquanto “expressão de uma memória cultural”. É que, nas palavras do autor, eles funcionam “como ordenamento metanarrativo que organiza os usos das memórias”, de modo que até o mais descrente dos gregos, a seu modo, não pode deixar de neles crer.